*Amar a si mesmo sem idolatria
Em qualquer relacionamento, seja ele qual for, estamos diante de outro eu, já que todos os seres humanos são iguais, em essência. Assim, qualquer sentimento, interesse ou opinião, em suma, qualquer motivação na direção de outra pessoa, só pode existir se somos capazes de ter, em relação a nós mesmos, as mesmas disposições. Por exemplo, como poderíamos fazer alguma coisa boa para alguém se não tivéssemos o conhecimento por experiência, ou o desejo, de que aquilo é bom para nós? Isto seria impossível.
Por isso, uma pessoa só pode ter amor por outra, ser um verdadeiro amigo, se for capaz de amar a si mesma. Assim, as amizades verdadeiras dependem de sermos capazes de reconhecer e desejar a nós mesmos o bem que procuramos oferecer aos amigos. Isto também fica visível se lembrarmos que a amizade verdadeira depende de encontrar no outro evidências de um bom caráter, que ao mesmo tempo temos de ter, para que esta igualdade seja o elo que une os amigos.
O amor a si mesmo é essencial para que possamos amar o outro. Mas esse amor deve ter a mesma medida equilibrada das disposições da excelência moral, deve ser um meio-termo. Se alguém age para ter todos os benefícios para si mesmo, acontece o que se pode chamar egolatria, que é o cultivo de valores egoístas, que impedem a pessoa de se relacionar eticamente com os outros.
É preciso amar a si mesmo para defender os próprios interesses e ser correspondido nos prazeres compartilhados na amizade. Aquele que não consegue amar a si mesmo acaba vivendo de forma amargurada e cobrando do outro que ocupe um espaço que ele não conseguiu ocupar. Trata-se do exemplo de uma vida sem amor próprio e que consiste na espera de que os filhos, por exemplo, vivam aquilo que não foi vivido por quem não pôde, pelas mais variadas razões, experimentar os efeitos desse afeto. Também é preciso amar o bem em si para fazer o bem e reservar aos outros os benefícios decorrentes de agir segundo o bem. Uma pessoa que despreza seus próprios interesses e não busca aquilo de que precisa para viver dignamente não é capaz de reconhecer o direito dos outros a ter vontade própria nem que eles têm necessidades. Na convivência, essa pessoa é incapaz de agir com justiça, e também fica impossibilitada de fazer o bem. Em certo sentido, pode-se dizer que toda pessoa boa tem de ser um ególatra, pois deseja para si os maiores bens, que consistem em possibilitar que os outros recebam os benefícios das ações éticas.
Também é verdadeiro no caso das pessoas boas que elas praticam muitas ações por causa de seus amigos e de sua cidade, e se for necessário morrerão por eles e ela, pois elas desprezarão as riquezas e as honrarias e de um modo geral os bens que são objeto de competição, ganhando para si mesmas a nobreza, já que elas preferem um momento fugaz de prazer intenso a um longo período de satisfação moderada, um ano de vida nobilitante a muitos anos de vida rotineira, e um ato magnífico e nobilitante a muitos atos triviais.
Aristóteles, Ética a Nicômaco, livro 9.
*Texto extraído do livro Os dez mandamentos da ética, de Gabriel Chalita.
Por isso, uma pessoa só pode ter amor por outra, ser um verdadeiro amigo, se for capaz de amar a si mesma. Assim, as amizades verdadeiras dependem de sermos capazes de reconhecer e desejar a nós mesmos o bem que procuramos oferecer aos amigos. Isto também fica visível se lembrarmos que a amizade verdadeira depende de encontrar no outro evidências de um bom caráter, que ao mesmo tempo temos de ter, para que esta igualdade seja o elo que une os amigos.
O amor a si mesmo é essencial para que possamos amar o outro. Mas esse amor deve ter a mesma medida equilibrada das disposições da excelência moral, deve ser um meio-termo. Se alguém age para ter todos os benefícios para si mesmo, acontece o que se pode chamar egolatria, que é o cultivo de valores egoístas, que impedem a pessoa de se relacionar eticamente com os outros.
É preciso amar a si mesmo para defender os próprios interesses e ser correspondido nos prazeres compartilhados na amizade. Aquele que não consegue amar a si mesmo acaba vivendo de forma amargurada e cobrando do outro que ocupe um espaço que ele não conseguiu ocupar. Trata-se do exemplo de uma vida sem amor próprio e que consiste na espera de que os filhos, por exemplo, vivam aquilo que não foi vivido por quem não pôde, pelas mais variadas razões, experimentar os efeitos desse afeto. Também é preciso amar o bem em si para fazer o bem e reservar aos outros os benefícios decorrentes de agir segundo o bem. Uma pessoa que despreza seus próprios interesses e não busca aquilo de que precisa para viver dignamente não é capaz de reconhecer o direito dos outros a ter vontade própria nem que eles têm necessidades. Na convivência, essa pessoa é incapaz de agir com justiça, e também fica impossibilitada de fazer o bem. Em certo sentido, pode-se dizer que toda pessoa boa tem de ser um ególatra, pois deseja para si os maiores bens, que consistem em possibilitar que os outros recebam os benefícios das ações éticas.
Também é verdadeiro no caso das pessoas boas que elas praticam muitas ações por causa de seus amigos e de sua cidade, e se for necessário morrerão por eles e ela, pois elas desprezarão as riquezas e as honrarias e de um modo geral os bens que são objeto de competição, ganhando para si mesmas a nobreza, já que elas preferem um momento fugaz de prazer intenso a um longo período de satisfação moderada, um ano de vida nobilitante a muitos anos de vida rotineira, e um ato magnífico e nobilitante a muitos atos triviais.
Aristóteles, Ética a Nicômaco, livro 9.
*Texto extraído do livro Os dez mandamentos da ética, de Gabriel Chalita.
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