quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

O fim e o princípio*



O Curioso Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button, EUA, 2008)
Dir: David Fincher


A nova produção de David Fincher é um filme correto e apesar das quase três horas de duração, transcorre muito bem, devido a um roteiro ágil e fácil, e também hábil em esconder alguns furos e imperfeições da narrativa. Mesmo assim, o filme dá a impressão de história bem contada, e apesar da originalidade do argumento, é na verdade um belo conto de amor. Caiu nas graças da Academia de Hollywood e é o líder de indicações ao Oscar 2009.

Acompanhamos toda a vida de Benjamin Button (Brad Pitt) desde o seu nascimento, com o único diferencial de que ele veio ao mundo com a aparência de um velho de 80 anos de idade, e com o passar do tempo vai rejuvenescendo. Ao nascer, é rejeitado pelo pai e acaba sendo criado pela negra Queenie (Taraji P. Henson) num asilo. Lá ele conhecerá, ainda em menina, a bela Daisy (Cate Blanchet), o amor de sua vida. O roteiro, com tom fantástico, é baseado no conto homônimo de F. Scott Fitzgerald.

O filme todo é narrado em flashback a partir do diário de Benjamin, lido pela filha de Daisy, que se encontra no leito de morte num quarto de hospital. A trajetória peculiar desse homem encontra problemas na sua inadequação diante do amor por uma pessoa que envelhece enquanto ele faz o percurso contrário. Há também por todo o filme reflexões sobre o morrer e é interessante notar que mesmo Benjamin estando rejuvenescendo, ele está também morrendo, como qualquer um.

No entanto, o roteiro talvez escorregue por buscar sempre emocionar o espectador, embora isso nunca soe forçado, mas insistente. Daí surge a relação de afetividade entre Benjamin e Queenie, a amizade com os velhinhos do asilo (que o aproxima ainda mais da persistência da morte), os encontros e desencontros com Daisy, o reaparecimento do pai, a questão da paternidade, etc. Mas convenhamos que na parte final o filme dê uma forçada no que diz respeito à partida de Benjamin (e seu descabido retorno) e na muito previsível descoberta feita pela filha de Daisy. E me pareceu muito desnecessário atualizar o texto ao incluir momentos prévios ao desastre do furacão Katrina sobre Nova Orleans.

O já conhecido virtuosismo técnico de David Fincher se minimiza aqui em prol de uma narrativa mais fluida (algo realizado soberbamente em Zodíaco), mas mesmo assim muitos quesitos merecem destaque, a começar por um trabalho de maquiagem perfeito: desde a incrível criação de um bebê com aparência de um idoso, às transformações constantes do corpo de Brad Pitt e o envelhecimento de uma quase irreconhecível Cate Blanchett. O trabalho de fotografia cria momentos de pura beleza (sua principal função aqui), enquanto a passagem dos anos ganha bastante eficiência por uma direção de arte caprichada e figurinos estilizados, mas nada exagerados.

Numa cena magnífica, o filme revela como uma pequena mudança nas atitudes interligadas de diversas pessoas pode provocar conseqüências desastrosas (nesse caso, um atropelamento), ao sabor do puro acaso. Nesse sentido, o filme aponta para a responsabilidade de nossos atos, o destino de nossas vidas que também interfere em outros destinos, e mesmo que você viva sua vida de trás para frente, não deve fugir desse encargo.


*Rafael Carvalho

http://www.movioladigital.blogspot.com/


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